Gustavo Dahl

Gustavo Dahl (1938-2011) foi um pensador e militante do cinema brasileiro. Seus discursos e suas ações sempre representaram a defesa de um projeto político e sobretudo econômico para o audiovisual brasileiro.

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“O descaso histórico do país com as imagens que produziu através do cinema, em mais de um século, participa da dificuldade que ele tem em assumir uma identidade. O exame da situação fracassada não implica em reserva ou crítica, serve simplesmente para sinalizar dramaticamente a urgência de uma atuação na salvaguarda de um patrimônio cultural e econômico.”

Gustavo Dahl, 1996c

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Cineasta, crítico e gestor público, Gustavo Dahl nasce em 08 de outubro de 1938, em Buenos Aires, Argentina, filho de pai argentino e mãe brasileira. Passa parte da infância em Montevidéu e muda-se com a família para São Paulo em 1947. Cursa os estudos secundários no Colégio Paes Leme, e depois ingressa na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que não chega a concluir.

Em 1954, acompanha a programação da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em especial o I Festival Internacional de Cinema do Brasil. Nesse momento conhece diversas personalidades engajadas na promoção e difusão da arte cinematográfica, entre ela Paulo Emílio Sales Gomes, Francisco Luiz de Almeida Salles, Rubem Biáfora e Walter Hugo Khouri.

Convidado por Paulo Emílio Sales Gomes, em 1958 começa a publicar artigos sobre cinema, no Suplemento Literário d’O Estado de S. Paulo. A colaboração estende-se por alguns anos, primeiramente no período em que trabalhou na Cinemateca Brasileira (1958-1960) e depois durante sua estada na Europa (1960-1964) como bolsista do Governo Italiano e da Unesco, nos cursos de Direção do Centro Experimental de Cinematografia (Roma) e de Cinema Etnográfico (Museu do Homem, Paris), ministrado por Jean Rouch.

Tendo publicado, em 1960, o primeiro ensaio escrito no país sobre a Nouvelle Vague, demonstrou interesse pelos movimentos de renovação do cinema, característicos daquela década. Assim sendo, começa analisando a obra de Walter Hugo Khouri e em seguida o movimento do Cinema Novo. A forte interação que se dava na época entre os integrantes daquela geração, que ansiavam por uma renovação do cinema brasileiro, o aproximou de Glauber Rocha, que publicava no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. O diálogo intelectual estabelecido pela imprensa logo se transformou em uma teorização comum sobre o movimento do Cinema Novo.

Como estudante na Europa, acompanha a evolução do cinema brasileiro através de intensa correspondência com Paulo Emilio e Jean-Claude Bernardet, e se relaciona com o jovem cinema italiano da época, representado por Bernardo Bertolucci, Marco Bellochio e outros. E também com a moderna crítica italiana, como Adriano Aprá e Enzo Ungari, que girava em torno da revista Cinema e Film. Nos festivais de cinema latino-americano, realizados no início dos anos 60 na Riviera Ligure, por Gianni Amico, conhece Louis Marcorelles e, por seu intermédio, os jovens da Cahiers du Cinéma, revista dedicada à descoberta e defesa de novos cineastas e novas cinematografias, que na época tinha importância mundial, e com a qual veio a colaborar no trabalho de relacionamento com o movimento do Cinema Novo. Colaborou também com textos eventuais, dos quais o mais significativo foi a tradução francesa do artigo Deus e o Diabo na Idade da Terra em Transe, publicada por ocasião da morte de Glauber Rocha, anteriormente publicado no Brasil, com grande repercussão, durante o lançamento do filme Idade da Terra.

Voltando ao Brasil, em 1964, aproximou-se da revista Civilização Brasileira, que reunia intelectuais num movimento de resistência à ditadura militar, convidado por Nelson Werneck Sodré, seu diretor, e por Alex Vianny, que respondia pela edição da parte cinematográfica. Nela publicou, em 1966, O Cinema Novo e Seu Público, ensaio inicialmente concebido como um estudo estratégico sobre o cinema brasileiro, encomendado pelo poeta e industrial Augusto Frederico Schmidt, que intencionava investir na área. Nessa época participou ativamente dos debates e mesas-redondas sobre cinema e cultura em geral promovidos pela revista.

Embora tenha prosseguido na carreira de documentarista e montador, não deixou de estar presente no debate público de ideias sobre o cinema brasileiro, mantendo a colaboração com jornais como O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense. Na década de 1970, depois de ter realizado os filmes O Bravo Guerreiro (1968) e Uirá (1973), colaborou como crítico nos semanários Opinião e Movimento, precursores da imprensa alternativa. Sua atividade como diretor não impediu a participação na formulação e atuação política dentro do cinema brasileiro, que terminou levando-o a aceitar, em 1975, o convite de Roberto Farias, diretor-geral da Embrafilme, para assumir a área de distribuição da empresa, que seria responsável pelo fortalecimento do mercado exibidor de filmes brasileiros.

Deu então uma guinada em seus interesses teóricos, generalistas, de investigação de linguagem e passou a direcioná-los para a economia cinematográfica, sobretudo para a presença e evolução do filme brasileiro no mercado. Data desta época o artigo Mercado é Cultura, que pioneiramente colocava a rede de difusão constituída pela exibição cinematográfica como um meio efetivo de comunicação social, dentro do qual deveria inserir-se, como fator de afirmação da identidade nacional, o cinema brasileiro, para além do velho dilema “arte” ou indústria.

A partir de 1985, enquanto presidente do Conselho Nacional de Cinema, continuou a debater a relação entre Estado, cinema brasileiro e mercado, considerando inclusive o aparecimento de novos segmentos de atividade econômica criados pela evolução tecnológica como por exemplo o vídeo doméstico.

Em 1983, voltou à produção cinematográfica para realizar o filme Tensão no Rio e envolveu-se em seguida com a campanha presidencial de 1989, publicando artigos incisivos sobre a política cultural do futuro governo. Depois de alguns anos de retiro e introspecção, vendo começar o processo de crítica pública ao modelo de incentivos baseado na renúncia fiscal, publicou, em 1998, uma série de artigos na página de Opinião, do Jornal do Brasil. Atacava principalmente a falta de visão sistêmica de um fomento econômico que se voltava exclusivamente para a produção, desconsiderando outros elos da cadeia econômica, como a distribuição e a exibição. A série de artigos repercutiu no debate que estava em pleno curso, desaguando na proposta de criação de uma Secretaria Nacional de Política Audiovisual, ligada à Casa Civil da Presidência da República. No mesmo ano, participou da organização, em Brasília, do ciclo de debates “Cinema Brasileiro: Estado ou Mercado?”, que daria origem ao III Congresso Brasileiro de Cinema, ocorrido em Porto Alegre, em junho de 2000, no qual foi eleito presidente. Toda esta atividade foi acompanhada pela produção de textos, intervenções e discursos que almejavam uma proposta de política pública para o cinema e o audiovisual brasileiro.

No mesmo ano, a realização do Fórum de Competitividade da Indústria Cinematográfica, no Ministério do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio no qual foi correlator, bem como a criação do Grupo de Desenvolvimento da Indústria do Cinema – GEDIC, na Presidência da República, em que foi primeiramente relator da contribuição levada a efeito pelos membros do grupo da sociedade civil e depois responsável pela coordenação do relatório final, levaram-no a uma grande produção intelectual, que ficou registrada nos documentos conclusivos produzidos por ambos os grupos.

A partir desta presença institucional, política e conceitual, veio a ser designado diretor-presidente da Agencia Nacional do Cinema – Ancine, implantando-a no período que vai de 2001 a 2006. Escreveu numerosos textos ligados a questões estratégicas e gerenciais do órgão, sem perder, no entanto, o sentido de sua contextualização dentro da política audiovisual do país, interna e internacionalmente.

Cumprido seu mandato na Ancine, foi eleito presidente do Conselho da Cinemateca Brasileira, primeira instituição cinematográfica em que colaborou em sua carreira. Tendo sempre mantido seu interesse na atividade de preservação, dá-lhe um novo enfoque, estabelecendo-a como o último elo da cadeia econômica cinematográfica e entendendo o material preservado como conteúdo que gera conteúdo e que pode possibilitar uma reinterpretação audiovisual do país.

Entre 2008 e 2011, Gustavo Dahl confiou à Cinemateca Brasileira a preservação de seu acervo fílmico e documental. Após sua morte, seus herdeiros renovaram o compromisso em relação ao acervo do cineasta, encaminhando novas doações de documentos. Em 2018, Gustavo Dahl completaria 80 anos e, para celebrar a atualidade de sua obra, a Cinemateca Brasileira disponibiliza no Banco de Conteúdos Culturais uma coleção que contempla seus três longas-metragens, fotos, cartazes e uma seleção de seus escritos. Novas atualizações de conteúdos poderão ser realizadas, a medida em que avance os trabalhos de processamento técnico de seu arquivo pessoal. Todavia, os consulentes que queiram aprofundar seus estudos poderão consultar os materiais no Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira.

Última atualização em 18.12.2018