Glauber Rocha

Jornalista, intelectual, escritor, crítico e diretor de cinema, Glauber Rocha (1939-1981) é um dos maiores cineastas brasileiros, cuja filmografia é reconhecida nacional e internacionalmente. Sua obra é objeto de extensa fortuna crítica, até os dias atuais. Em 24 anos de profícua atividade, realizou dez longas-metragens e outros trabalhos para cinema e televisão, e produziu uma grande quantidade de escritos.

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“Glauber Rocha é Profeta alado. Restaria lembrar que Profeta não tem obrigação de acertar, sua função é profetizar. Através de filme, escrita, fala e vida, Glauber tornou-se uma personagem mágica de quem não é fácil ser contemporâneo e conterrâneo. Ele é uma de nossas forças e nós Brasil a sua fragilidade.”

Paulo Emílio Sales Gomes. In: Nota Aguda, 1975

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Jornalista, intelectual, escritor, crítico e diretor de cinema. Glauber Rocha nasce na cidade baiana de Vitória da Conquista, em 14 de março de 1939, como primogênito de Adamastor Bráulio Silva Rocha e Lúcia Mendes de Andrade Rocha. Aos dez anos muda-se com a família para Salvador, onde estuda no Colégio Dois de Julho e tem suas primeiras experiências com as artes dramáticas, ao encenar o papel de um príncipe espanhol na peça El hilito de oro. Participa das Jogralescas de Teatralização Poética, grupo dedicado à produção de peças teatrais adaptadas de romances, poesias e clássicos da literatura nacional e estrangeira, experiência essa que influencia fortemente sua formação cultural e artística.

Em 1957 ingressa na Faculdade de Direito da Universidade da Bahia, mas abandona o curso. Nesse período colabora na imprensa baiana, publicando críticas de cinema no Jornal da Bahia e no Diário de Notícias e inicia seu primeiro filme, Pátio – um curta-metragem experimental lançado dois anos depois. Frequenta assiduamente o cineclube do crítico baiano Walter da Silveira, que se torna uma das principais referências no meio cinematográfico. Colabora no filme Rio, zona norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, e participa do curta-metragem de Luiz Paulino dos Santos, Um dia na rampa (1960). É produtor-executivo de A grande feira (1961), de Roberto Pires, e de Barravento (1961), de Luiz Paulino dos Santos, assumindo a direção após desentendimentos na equipe. Essas produções formam, juntamente com Bahia de todos os santos (1960), de Trigueirinho Neto, o chamado Ciclo baiano.

A premiação de Barravento no Festival de Karlovy Vary (1962) fortalece sua presença no cinema brasileiro. Em 1963, o movimento do Cinema Novo se consolida e Glauber lança seu livro-manifesto Revisão crítica do cinema brasileiro. Com a realização do premiado Deus e o diabo na terra do sol (1964), ganha projeção internacional e se consagra como o principal diretor do Cinema Novo ao inaugurar uma nova linguagem cinematográfica explicitada no manifesto A estética da fome, escrito durante a Resenha do Cinema Latino-Americano, em Gênova, no ano de 1965. No ano seguinte realiza Amazonas, Amazonas, a pedido do Governo do Estado do Amazonas; e Maranhão 66, para o governador José Sarney. Dois filmes encomendados, mas nos quais o retrato da natureza e as tramas da política já anunciam Terra em transe (1967), seu longa-metragem mais consagrado pela crítica em festivais nacionais e internacionais.

Em 1968 inicia as filmagens de Câncer, concluído somente em 1972; e em 1969 radicaliza sua alegoria do Brasil com O dragão da maldade contra o santo guerreiro, que obtém o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes no mesmo ano. Na ex-colônia francesa Congo-Brazzaville realiza Der leone have sept cabeças (1970), filme sobre a luta anticolonialista no continente africano; e no mesmo ano dirige Cabezas cortadas, obra montada em estilo fragmentado e de narrativa descentralizada. Em 1974, a partir de imagens de arquivos do acervo do Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos - ICAIC e cenas de filmes brasileiros, dirige em parceria com Marcos Medeiros História do Brasil: uma espécie de inventário político da América Latina, que traz uma visão crítica da colonização, das lutas de classes, do messianismo e da política populista no chamado Terceiro Mundo. E na Itália filma Claro (1975), um olhar brasileiro sobre os costumes e a história de Roma, mostrando os traços de decadência da sociedade romana.

Retorna ao Brasil e, em 1977, realiza Di Cavalcanti Di Glauber e Jorjamado no cinema. Nos próximos três anos participa de intensas polêmicas através de textos e entrevistas publicados na imprensa sobre os rumos políticos do país. Desenvolve, com financiamento da Embrafilme, o filme que muitos críticos consideram seu projeto estético mais radical: A idade da Terra (1980). Durante a permanência no exterior, e na volta ao Brasil, colabora em vários jornais como O Pasquim, Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil. Participa constantemente, durante o ano de 1979, do programa Abertura, da extinta TV Tupi. Escreve o romance Riverão Sussuarana (1977) e a obra de caráter ensaístico Revolução do Cinema Novo (1981).

Glauber Rocha morre em 22 de agosto de 1981, com uma obra composta por dez longas-metragens e outros trabalhos para cinema e televisão, e uma grande quantidade de escritos – alguns publicados na coletânea de críticas cinematográficas O século do cinema, editada pela Embrafilme em 1983.

 

Acervo Glauber Rocha

A chegada do acervo Glauber Rocha para a Cinemateca Brasileira compreende dois períodos distintos. O primeiro deles ocorre em 1980, quando o próprio cineasta envia para a instituição um conjunto de documentos, formado por roteiros, cartas e, sobretudo, matérias da imprensa nacional e estrangeira sobre sua carreira e outros assuntos de seu interesse, como política e cultura em geral. O segundo momento se refere à aquisição feita, em dezembro de 2010, pela Sociedade Amigos da Cinemateca, através de recursos do Programa de Preservação e Difusão de Acervos Audiovisuais III (Plano de Trabalho 16 do Termo de Parceria SAv-MinC). Foram adquiridos os direitos patrimoniais da obra de Glauber Rocha, e também as séries documentais Produção Intelectual e Fotografias.

No cumprimento da missão de preservar e difundir o legado de um dos maiores nomes do cinema brasileiro e mundial, a Cinemateca Brasileira inaugura no seu Banco de Conteúdos Culturais uma coleção que, nesta primeira fase, contempla 07 dos mais conhecidos filmes do cineasta, juntamente com uma gama de materiais documentais relacionados à filmografia glauberiana. São 25 cartazes, 972 fotografias e 78 artigos colecionados pelo cineasta, e publicados na imprensa nacional e estrangeira sobre seus filmes. As futuras atualizações da coleção deverão contemplar sobretudo uma seleção da produção escrita do diretor e novas séries fotográficas. Todos os documentos integrantes do arquivo pessoal Glauber Rocha, ainda que não disponíveis no BCC, podem ser consultados pelos pesquisadores no Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira.

Última atualização 18.12.2018