B.J. Duarte

B.J. Duarte foi um fotógrafo, crítico e diretor de cinema que realizou uma vasta produção de documentários institucionais e filmes científicos. Sua obra legou uma importante contribuição à cultura cinematográfica brasileira, pela sua individualidade artística e inconfundível assinatura técnica.

Filmes

“(...) revelada, copiada, selecionada, (às vezes rejeitada melancolicamente na cesta de restos), montada, sonorizada, recopiada, a imagem talvez se torne eterna, embora seja um bem de consumo como qualquer outro produto (...) Mas se depois de esgotada a sua capacidade comercial, ou utilizada nos auditórios das escolas (...) ver-se-á arquivada nos ‘bunkers’ das cinematecas, resguardadas para as gerações futuras, para o estudo dessa arte sutil, não raro efêmera, mas tão próxima do Humano, que é o Cinema.”

B.J. Duarte. In: Caçadores de imagem: nas trilhas do cinema brasileiro, 1982

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Benedito Junqueira Duarte (1910 - 1995), ou simplesmente B. J. Duarte, foi um fotógrafo, crítico e diretor de cinema que marcou a história da cinematografia brasileira pela apurada técnica mostrada em seus documentários institucionais e promocionais, e na extensa produção de filmes científicos, em três décadas de intensa atividade como realizador.

Iniciado por seu tio no ofício da fotografia, e após um longo estágio em Paris, B. J. Duarte começou sua carreira nos anos 1930, atuando como fotojornalista em veículos da imprensa paulista. Colaborou com a inovadora revista São Paulo, transgredindo as convenções impostas para fotos e diagramações do período. Foi fundador do célebre Foto Cine Clube Bandeirante e participou, em 1946, da criação do Segundo Clube de Cinema de São Paulo – o embrião da Cinemateca Brasileira. Foi crítico de cinema nos jornais dos grupos Folha e Estado e em toda a atividade da revista Anhembi (1950 - 1962). Em 1937 foi nomeado por Mário de Andrade para chefiar a Seção de Iconografia do Departamento de Cultura da Prefeitura do Munícipio de São Paulo, cujo objetivo era “recolher”, por meio da câmera fotográfica, documentos essenciais para os “estudos sobre a história de São Paulo”.

O domínio dessa prática fotográfica proporcionou a B. J. Duarte lapidar o olhar para temas recorrentes na sua vindoura cinematografia: o registro das transformações urbanas e as manifestações artístico-culturais de São Paulo. Filmes como Festa do Divino em Nazaré Paulista (1946) e Viagem em redor de São Paulo (1943-1944), por exemplo, atendem a essas premissas, seja valorizando folguedos do folclore regional, ou apresentando a terra bandeirante como um cartão postal com imagens em movimento. Atendendo às demandas políticas da gestão do prefeito Prestes Maia (1938-1945), documentou a mais profunda alteração urbana e geográfica da capital paulista em Retificação do Rio Tietê (1940). Importante registro histórico no qual, pela primeira vez, filmava-se uma prática intervencionista por meio de máquinas que mudariam o curso das águas do principal rio da cidade.

Nos anos 1950, as realizações de B. J. Duarte dialogaram com o ufanismo das elites de São Paulo, fato que não o impediu de trazer para os seus filmes a sua inconfundível assinatura técnica. Para as festividades do IV Centenário da cidade, foi produzido A metrópole de Anchieta (1952), premiado curta-metragem que contou com assessoria histórica de Sérgio Buarque de Holanda e apresentou os esforços urbanísticos da Prefeitura para as comemorações da data. De igual modo, São Paulo, vistas da cidade e Vistas aéreas de São Paulo (títulos atribuídos, ambos de 1950p) atenderam aos mesmos propósitos, por mostrarem ângulos monumentais da capital bandeirante. Em Parques Infantis da cidade de S. Paulo (1954), B. J. Duarte remonta ao começo de sua carreira no Departamento de Cultura, ao retomar a temática da série fotográfica Parques infantis de 1937. Ainda sob o elogio da pujança econômica e das administrações públicas realizou o curta-metragem Um lençol de algodão (1954), filme-propaganda para a indústria Santista Têxtil, que retrata a coleta do algodão no interior paulista até o processamento industrial da fábrica de Osasco; e Lucas Nogueira Garcez (título atribuído, 1951), que trata da agenda privada da família do recém-eleito governador paulista.

Aliando sua antiga paixão pela medicina (na juventude, queria ser médico) com o amor adquirido pelo cinema, B. J. Duarte se tornaria referência para os filmes científicos no Brasil – gênero cinematográfico ao qual se dedicou desde os anos 1950, com uma extensa realização de obras para a Filmoteca Médica Cirúrgica Brasileira, o que lhe conferiu o Prêmio Arnaldo Vieira de Carvalho concedido pela Faculdade de Medicina da USP pelos “relevantes serviços prestados à Medicina e à Cirurgia de São Paulo e do Brasil”. Mas foi na década de 1960 que ganhou notoriedade com a sua produção científica, em parceria com o também fotógrafo e diretor de cinema Estanislau Szankovski. São desse período, por exemplo, Uma escola de médicos (1963), filme institucional sobre os trinta anos da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, e que apresenta uma cobertura jornalística próxima à linguagem dos cinejornais; e Transplante cardíaco humano (1968), minucioso filme sobre o feito inédito na América Latina, realizado por dr. Euclydes de Jesus Zerbini e sua equipe. Aclamado e recebedor de inúmeros prêmios, Transplante cardíaco humano foi, segundo o próprio B. J. Duarte, o mais importante filme científico de toda a sua carreira de cineasta.

Os filmes publicados no Banco de Conteúdos Culturais ilustram uma pequena, mas significativa, parcela do trabalho de Benedito Junqueira Duarte. O processamento técnico da maioria desses títulos (restauração fotoquímica e telecine SD) ocorreu em 2009, no âmbito da iniciativa B. J. Duarte - Projeto de restauração e divulgação etapa 1, que contou com o copatrocínio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo e o apoio da Sociedade Amigos da Cinemateca. Um dos mais sérios documentaristas de São Paulo, e um dos raros especialistas em filmes científicos, B. J. Duarte legou à cultura cinematográfica brasileira uma obra extensa, que ainda há muito para ser estudada, sobretudo no que diz respeito à sua individualidade artística, fruto de uma base cultural e técnica que sempre se sobressaiu diante das imposições políticas e desafios científicos.

Última atualização 18.12.2018